domingo, 22 de agosto de 2010

Atemporal



Ela sabia que ele a amava. Sabia que preocupava-se com ela, que pensava nela e mesmo que de uma forma diferente...passava pelas mesmas dores por ela e por eles.
Talvez fosse a época do mês, o vento macio que balançava a cortina lembrando que naquele sofá pequeno ela aninhava e encaixava em seu peito. Talvez fosse porque os dias juntos haviam trazido o sabor e o costume da companhia dele, ou porque ela aproveitou o tempo livre e tentou se livrar de algumas camisetas velhas e roupas largas e o perfume simplesmente invadia as lembranças a cada gaveta aberta e a saudade aumentava a cada passo que dava sozinha.
Um filme a fez refletir como era aquele amor. O jeito que ele demonstrava os sentimentos sempre foi peculiar, e em alguns momentos isso a incomodava. Uma vez em uma viagem, pra acorda-la ele colocou uma música alta e ela teve um sobressalto; indagadou o porquê dele não haver escolhido uns beijos nas costas ou um cafuné leve. Deve ser o instinto femino que por mais que negue, vira e mexe cenas de um mundo fantasia vêm a mente!
Ela era tão falante, queria contar o dia, os sonhos, as trapalhadas do cachorro e planos pro apartamento novo. Como ele conseguia resumir o dia de forma tão sucinta?
Eram descaradamente e diferentes. E isso a fez ver mais uma vez que as vezes esquecia de ver além. Que aquele amor era bem maior que as indagações efêmeras. Que ele a amava, e que mesmo sem compartilhar o mesmo molde do amor, não deixava de ser.

"Amor não é aquele que só consegue amar a perecível forma.
Por ser fácil, é vulgar amar a formosura da forma.
Esse amor, que não vai além do apetite estético, é tão vulnerável quanto a própria beleza transitória. Dura somente o tempo que dura aquilo que o tempo, a doença e a morte desfiguram e extinguem.

O Amor liberto do tempo, das injunções existenciais, o Amor que perdura, os vulgares não conhecem, pois não entendem o que é amar a Essência, que transcende as forma.
Somente os que já conseguiram penetrar em algumas camadas mais sutis e profundas de seu próprio universo interno, portanto, mais longe do ilusório, são capazes da libertadora aventura, da transcendente ventura de Amar.

Este amar Real também goza a forma.
Mas, em realidade, ama a Essência, que lhe dá Eternidade, Infinitude, Transcendência, Felicidade, Plenitude.”

Professor Hermógenes"

quarta-feira, 14 de abril de 2010

carta da simplicidade.



Mulheres se encantam com pouco. Não. Não com o pouco literal. Nos encantamos com pequenas gentilezas, com um olhar direcionado quando andamos na direção de vocês. Percebemos que podem olhar pra qualquer uma a volta, mas preferiram olhar pra nós. Para uma em especial. Para sua garota.
Gostamos de tecer fios e fios de palavras, as frases saem quase como em trabalho artesão, tão bem descritivo, detalhado, com toques de fantasia e imaginação que só o cérebro feminino é capaz de deter. Não nos contentamos em contar o que se passou conosco, como foi nosso dia. Temos que narra-lo de forma quase infantil.
Surpreendemos com um botão de rosas, uma flor furtada de algum jardim vizinho. Não fazemos questão de um ramalhete especial proveniente da Indonésia. A questão não é ganhar, longe disso. É saber que em alguma parte do dia, vocês pensaram e quiseram ser o responsável por uma emoção inesperada.
Ser romântico é diferente de ser piegas. Mulher que sabe quem tem ao lado, não precisa sair de casa e deparar com uma faixa que chega a atrapalhar o caminhão de lixo a passar só pra ler frases saidas de ferramenta de busca na internet. Um bilhete embaixo do travesseiro, uma mensagem de texto enviada no horário mais longo do dia, uma ligação rápida só pra lembrar como somos especial é mais presenciado.
Você não precisa ser o mestre do sushi, nem o chef dos frutos do mar, nem nos levar sempre ao restaurante que aparece com múltiplas estrelas nas colunas da revista semanal. Uma pasta com um bom vinho já faz maravilhas,pode acreditar.
Homem tem que desenvolver uma marca, algo que mesmo que não continuem juntos, é lembrado. Pode ser um jeito de andar, de sorrir meio torto, de abraçar, de não saber combinar peças de roupa direito, um gosto particular musical, uma maneira de conversar, de envolver os pés embaixo do edredon...Importante é ter um trunfo aliado.
Mulher por mais feminista e auto suficiente que seja, gosta de sentir especial; não precisamos sentir protegida e cercada de cuidados demasiados. Gostamos de saber que temos alguém que podemos ligar pra tomar um sorvete num domingo ou embarcar num programa maluco, nos faz querer vocês pra chamar de "meu".
E tudo isso sem vocês parecerem disponível demais, interessado demais. Sim, podem não acreditar, mas mulher em geral adora um homem que teve que batalhar pra ter. Não aquela dos Cem Anos, porque aí as desinteressadas seremos nós. Mas aquela gostosa, impaciente, que apreende o coração e enlaça de vez os sentimentos por vocês.
Viu? somos a simplicidade em espécie!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Propaganda do amor ou amor de propaganda (Fabricio Carpinejar)



Há casais contra qualquer ostentação. Não realizam propaganda do seu amor. Não narram vantagens, não se elogiam em público, não descrevem o que ele ou ela preparou de especial na noite anterior, não geram ciúme, muito menos inveja entre os amigos. Não se derramam em abraços de aeroporto em cada esquina.

São os casais ideais, certo? Talvez durem para sempre, o que não traduz perfeição.

Não há como ser feliz sem merchandising do que se está vivendo. Sem morder a língua. Sem fofoca. Sem contar um pouco mais. É pensar e divulgar.

O amor é público, desde quando se estendeu a mão pela primeira vez com muito nervosismo para andar na rua com ela.

Não existe como disfarçar. Sensibilidade controlada é indiferença.

Um dos graves traumas afetivos é a falta de amor pelo amor.

Os pares se amam, mas estão descontentes por amar. Não desejavam estar amando. É um amor contrariado, um amor dissidente. Como uma maldição: Por que foi acontecer comigo logo agora?

É como se a companhia não fosse apropriada. Ou que não devia ter surgido naquele momento, é bem capaz de atrapalhar os negócios ou a vontade de viajar e de ser livre. Ou porque é diferente e não responde automaticamente. Perderemos tempo, perderemos a agilidade que tanto nos caracterizava.

Não se enxergam abençoados, e sim traídos pelo destino. Não tratam de alardear seu relacionamento como um feriado de sol. Por receio ou insegurança, não se orgulham da companhia. Nunca falarão: estou com quem sonhei, é perfeito para mim.

Não identificam que já têm o mais complicado, que o restante é simples: um cartão, um torpedo, uma cartinha, uma lembrança, um prato predileto, um capricho, um colo.

Amam ao mesmo tempo em que odeiam. Amam ser, odeiam estar. Por aquilo que a convivência exige, pelo mal-estar de uma conversa truncada, pelo ciúme passivo e sempre existente, pela necessidade de telefonar e de se apaziguar, pela dependência ruidosa e ávida.

Quem ama alguém, mas odeia o amor não terá paciência. Entrará num clima de cobrança permanente, de suspeita irremediável. Conhece como o par fica irritado e trata de testar os limites. Não agrada para criar contrariedade e arrecadar sinais do fim. Quer se livrar do amor, não do outro, mas o amor está no outro que acaba pagando a conta.

Não consegue se separar, tampouco se entrega verdadeiramente.

Quando está em paz, enlouquece. Quando está estressado, age com distração e depois reclama da cobrança. Ou cobra a cobrança. Ou antecipa a cobrança que não viria. A briga está condicionada a uma postura catastrófica. Mobilizado a provar que não tem mais jeito. Em vez de elogiar, reclama. Em vez de se declarar, ironiza. Em vez de confiar, pragueja.

A mulher pode amá-lo, o homem pode amá-la, só que ambos não amam o próprio sentimento. Cada um não se ama por amar. Não basta amá-la, tem que se amar por amá-la. Não basta amá-lo, tem que se amar por amá-lo.

Mas a reflexão não termina por aqui. Caso contraiu piedade do que não ama o amor, há ainda um tipo mais terrível: aquele que ama o amor, mas não ama seu parceiro. Ama seu modo de amar e não aceita mais nada. Faz o amor de propaganda, que é o contrário de fazer propaganda do amor. Experimenta um delírio romântico. Tudo o que o outro oferece não é do jeito conhecido, portanto não serve. Alimenta uma insatisfação constante, autoritária, como um diretor que recusa o improviso de seus atores e manda repetir a cena. Não reconhece os gestos mais naturais e singelos. Sufoca o que vive de fato pela pressa de um cartão-postal. Funciona na base do escândalo: da serenata na janela, da Kombi do aniversário, dos presentes imensos e das provas vistosas. Será insaciável, pressionando para receber o que somente ele imaginou (e nunca confessou).

É um desalmado da privacidade, um amante genérico, porque ama demais a si para amar quem quer que seja.

*Fabrício Carpinejar(http://carpinejar.blogspot.com/)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

igual perde a graça


Ele costumava programar a vida e até em viagens fazia o balanço do dia em planilhas. Voltava pra verificar se a porta estava mesmo fechada e se o alarme do carro havia trancado o porta-mala. Era meticuloso com seus selos e objetos que considerava importante. Por outro lado, não conseguia guardar as roupas nem tampouco dobra-las. Sempre que terminava de jogar video game, não voltava pra o modo de t.v.
Não era ligado em datas comemorativas mas virava e mexia, saía de casa pra fazer qualquer coisa e voltava com flores, presentes e agrados.
Ela era desastrada e tudo parecia ganhar vida quando alcançava suas mãos. Bebia água e café freneticamente e os copos e canecas denunciavam por onde passava. Ouvia Beatles, Elvis,Chico e samba de raiz e ele logo entediava. Implicava com as manias dele como se não tivesse as suas. Roubava o lugar da cama, esquecia de pagar as contas, investia em sapatos porque tinha certeza que couro é eterno. Amava conversar e sair pra ver gente. Ele preferia sempre o drive thru e receber os amigos em casa.
Ela não pensava pra falar; mas pedia desculpa com a facilidade de uma criança que cala quando vê um doce; ele preferia guardar pra si e quando raiva passasse,conversava sobre o assunto!
Mas um dia os dois cruzaram o mesmo caminho, e viram que longe, nenhum dos dois funcionava bem. Que ela sem ele era insossa e ele sem ela era o total descontrole. Perceberam que de tão diferentes, se completavam.
Decidiram colocar em risco as probabilidades do incerto e se aventuram diariamente na nada rotina da vida a dois.
E seguem na tentativa de fazer o outro feliz. Dia após dia.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

why?


Brincava pra fugir da responsabilidade..
Ironizava pra encobrir as próprias verdades...
Sorria mesmo com o coração machucado
Acreditava no futuro porque o tinha como sólido
Aceitava
Odiava
Voltava atrás.
Se martirizava


Não chegou a tomar gosto pela tristeza
Mas aprendeu a dançar conforme a música.

domingo, 22 de novembro de 2009

desnecessária solidão



Viu pela varanda que a tarde esvaía e a falta de notícia a deixou primeiro preocupada. Com o rodar dos ponteiros a preocupação deu lugar a irritabilidade e impaciência.
Palavras, frases pré fabricadas foram construídas e por pouco, ensaiadas. De nada adiantou.
As horas se demoraram e junto veio uma tempestade. Com pingos d'água generosos, ventos uivantes, misto de sentimento de raiva, impotência diante daquele turbilhão de sentimentos simultâneos.
Se soubesse que viver muitas vezes é representado por raios e temporal, nessa hora preferiria a bonança da calmaria.
Olhou-se no espelho e riu de si mesma. Mentiras contadas à ela pra tentar uma conversão nada convincente. A verdade era que tudo que poderia apazigua-la era ouvir sua voz, talvez uma aninhada nos braços, caso não fosse pedir demais.
Mesmo assim resolveu enfrentar a tormenta e saiu. Tentou espairecer, afasta-lo do pensamento, distrair e abster de preocupações fora de seu alcance.
Passado o tempo entendeu que caso não houvesse mais a inquietude, era porque não havia mais sentimento e sentimento, tinham de sobra!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

E a batalha continua....


Original em: http://www.osvigaristas.com.br