domingo, 22 de novembro de 2009

desnecessária solidão



Viu pela varanda que a tarde esvaía e a falta de notícia a deixou primeiro preocupada. Com o rodar dos ponteiros a preocupação deu lugar a irritabilidade e impaciência.
Palavras, frases pré fabricadas foram construídas e por pouco, ensaiadas. De nada adiantou.
As horas se demoraram e junto veio uma tempestade. Com pingos d'água generosos, ventos uivantes, misto de sentimento de raiva, impotência diante daquele turbilhão de sentimentos simultâneos.
Se soubesse que viver muitas vezes é representado por raios e temporal, nessa hora preferiria a bonança da calmaria.
Olhou-se no espelho e riu de si mesma. Mentiras contadas à ela pra tentar uma conversão nada convincente. A verdade era que tudo que poderia apazigua-la era ouvir sua voz, talvez uma aninhada nos braços, caso não fosse pedir demais.
Mesmo assim resolveu enfrentar a tormenta e saiu. Tentou espairecer, afasta-lo do pensamento, distrair e abster de preocupações fora de seu alcance.
Passado o tempo entendeu que caso não houvesse mais a inquietude, era porque não havia mais sentimento e sentimento, tinham de sobra!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

E a batalha continua....


Original em: http://www.osvigaristas.com.br

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A delícia e a dor de ser



Não tenho anos de experiência, não sou graduada em culinária, não sou exímia na organização e limpeza. Mesmo assim, tem dias que rolo da cama mais cedo e brinco de casinha. Tenho andado com vontade e fome de aprender. Fome de agradar, fome de engordar as visitas e o marido.
Olho pra folhas do calendário não tão antigas, e dou risada do que tenho me tornado aos poucos. Vejo que as andices regadas a açaí e bate perna com as amigas, churrasco e tardes em bar quando as aulas acabavam mais cedo da faculdade, dão lugar a compras no supermercado e disk rações do cachorro. As leituras e futricações em sites continuam, mas acrescidas de visitas ao "tudogostoso.com, receitasrapidasefaceis.com.br" "dicasdedecoração.com" e assim vai...
Não grito mais "mããããããe,cadê minha roupa?" mas ouço "Amoooorr,vc viu minha calça?". Meu pai não buzina mais a minha espera pra chegarmos no horário em algum lugar. Hoje o celular toca e tenho consciência que se não agilizar, pacientes vão esperar, chefe vai ralhar e eu quem vou ter de responder por mim.
Não estou, nem pretendo ingressar na vida adulta por completo por enquanto. As contas continuam não sendo pagas por mim, aliás, não consigo pagar nem as minhas inteiras. Não sei como é sustentar uma pessoa ou uma família e muito menos um cachorro. Só tento ser parte do que faz a vida de quem amo funcionar. Me esforço pra tudo estar em ordem pra poder quando quiser, viajar no feriado e ainda chegar ao final do mês com jantarzinho e cinema. Não sei se um dia vou ser a primeira a entrar no carro e não deixar ninguém a minha espera, ou conseguir entrar na loja, escolher meu carro e pagar inteiramente por ele. Não sei se vou crescer por completo nem atingir o que a maioria atinge. Me descubro despretenciosa mas não acomodada e sem ambição. Tenho aprendido a viver e divertir com situaçoes de dor que o crescimento traz e deliciar com a vida que Deus muito bondosamente me deu.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ah, tolinha!



Quando eu tinha mais ou menos oito, nove anos, morava em um lugar com muitos eucalíptos e com um clima que proporcionava o bailar dessas árvores. Sempre que chovia, ventava exageradamente e pra mim era quase uma dança fúnebre. Tinha pavor. Imaginava que a qualquer momento aqueles galhos elásticos iriam entrar teto a dentro!
Tenho algumas manias que chegam a ser paúras. Algumas pessoas sabem de algumas, outras sabem de poucas ou nenhuma. Uma dessas excentricidades, é que quase sempre penso em tragédias, daquelas (im)possíveis de acontecer, com probalilidades que até a Nasa gostaria de discutir a respeito!
Se estou dirigindo vem à minha mente que o cara não arrumou o pneu direito, ou a barra de direção vai partir e eu vou junto. Ou antes de dormir penso num incêndio. Já imagino me jogando do sétimo andar com notebook e cachorro a tiracolo. Corro e em dias de chuva penso que um raio pode me atingir e visualizo um velório, caxão lacrado e comadres pra cuidar do ex-marido. Tem também as tops de linha. Do caminhão da frente soltar alguma coisa e atingir minha garganta, ou o piso do elevador despencar com ele. Esse eu até ja ensaiei onde vou colocar os pés caso aconteça. A mais recente é com comida. Sabe a história da menina que morreu e primeiro foi amputado mãos e pés?Pois é, tudo que como eu penso, será que vai acontecer comigo? Tem microorganismos e bactérias que vão comer meu aparelho digestivo?
Realmente não sei de onde vem tanta mirabolice, mas depois de fazer do meu ócio uma fonte de pensamento, vi que talvéz seja por ter medos absurdos que continuo saindo da cama. Dirijo, corro, entro em elevadores, arrisco cozinhar e viver. Invento receitas pra minha vida com pitadas de ousadia e ingredientes de risada da minha própria tolice.